quarta-feira, 18 de março de 2015

Cão de Proteção ou Display?





Cão de Proteção ou Display?

Caros leitores do blog, esse artigo pretende ser breve sobre um assunto que é muito extenso e complexo no que diz respeito ao treinamento e formação de cães para executar a função de proteção patrimonial.

Começo perguntando aos senhores no que diz respeito aos seres humanos:

É possível formar um soldado sem prepará-lo para as situações reais que ele irá encontrar em um campo de batalha?

Seria justo e ético para com ele, treiná-lo somente através de um jogo de cena?

Qual dos dois tipos de treinamento você gostaria que o exército do seu país fosse treinado e em qual deles há maiores chances de sucesso e sobrevivência?

No jogo de cena? Ou o treinamento nas situações mais próximas da realidade em campo de batalha?

E porque pergunto isso aos senhores e o que isso tem a ver com o trabalho de cães de proteção?

É muito comum em nosso meio, por falta de conhecimento ou competência técnica, treinadores reforçarem um display de “defesa” nos cães, ou seja, apenas um mostruário destinado a atrair a atenção.

Esse mostruário se manifesta geralmente através dos latidos do cão no portão em comportamento aparentemente “defensivo”  mas que não pode ser visto e entendido como cão de proteção; -  aqui vale uma observação, via de regra quem invade a casa não invade pelo portão, principalmente quando há cães na casa.

Esse display (mostruário), aos olhos do leigo, parece indicar um comportamento agressivo, porém não passa de um jogo de cena.

O jogo de cena se dá da seguinte forma, o treinador pode em situações de brincadeira com a bolinha, retirar a mesma e com isso aguardar uma vocalização do cão, assim que ele vocalizar ele o recompensa soltando a bolinha, de forma que feito isso repetidas vezes, ele condicionará a um comando (sinalizador verbal) de latido no meio desse processo.

Ora, o cão apenas late porque quer a bolinha. Que aspecto motivacional do comportamento está colocado aí? O de brincar não é? Pois é, isso não representa perigo e tampouco um cão a proteger seu território. É apenas um display, um mostruário, nada demais.

Há aqueles que não capturam o comportamento de latir através da frustração da retirada da bolinha e reforço pela vocalização. Há aqueles que aproveitando o comportamento normal de alerta que a maioria dos cães possuem em relação ao território que ele convive, excita-o mais ainda no portão, com comportamentos de enfrentamento e quando o cão late de forma a parecer mais “agressivo” o treinador foge de vista, reforçando assim aquele comportamento.

Aos olhos do leigo, o cão apresenta todos os comportamentos desejados para a função e fica feliz com o trabalho.

Como profissional, posso dizer seguramente que em ambos os casos não temos um cão de proteção, mesmo porque latir sob comando e alertar sobre uma possível invasão territorial, não resume um trabalho de proteção. A grande maioria dos cães treinados dessa forma, quando há uma invasão territorial, fogem ou apenas latem sem agredir. A culpa é deles? É da raça? Também não! A culpa é do treinador que não o ensinou que existe a possibilidade da pessoa invadir o território e também de agredi-lo, inciando assim um combate entre agressor e cão.

Penso que nesses momentos, se eu fosse um cão treinado apenas no display e pudesse falar, eu diria a seguinte frase:

Caramba, nunca me disseram que isso poderia ocorrer, sempre me achei o melhor cão do mundo quando resolvia o conflito aqui no portão e a pessoa fugia. Só que agora a pessoa entrou e eu não sei o que fazer, até tentei investir na pessoa, mas logo ela me bateu com alguma coisa e eu fugi para o meu canto assustado. É, acho que fui enganado! Mas enchiam tanto a minha bola...

Volto a fazer a pergunta aos senhores: Treinar em cima de jogo de cena? Ou em busca de situações muito similares as reais?

O que é mais ético?

Um cão treinado para essa função, deve ter uma boa formação de mordida e deve ser treinado a morder em diversos pontos diferentes. Deve ser treinado a realizar uma varredura de pontos potencialmente propícios a invasão, que geralmente não é pelo portão.

Ele deve ter repertório comportamental para realizar tudo isso e quem ensina esse repertório, é o treinador.  Não há dúvidas de que a escolha da raça e do individuo também são importantes, mas existe todo um contexto para que esse cão se torne um cão de proteção.

Leva tempo e muito treino. Não é algo superficial como latir para ganhar a bolinha. É um trabalho sério que envolve profissionais sérios e que sabem o que estão fazendo e que jamais iriam enganar seus clientes e serem injustos com os cães que estão treinando.

Banalizar o comportamento agressivo e o trabalho de proteção, a latir para ganhar uma bolinha ou a apenas latir no portão, é algo totalmente anti-ético para com o cão e com o cliente, que como leigo acha muito bonito o seu cão latindo sendo que na verdade está sendo enganado.

Latir para ganhar a bolinha qualquer cão late. Diferente do cão formado em proteção patrimonial.  

Contratem profissionais sérios para a realização desse serviço.

Fica a dica e espero que tenham gostado.

Grande abraço a todos!   


   

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