Cão de Proteção ou
Display?
Caros leitores do blog,
esse artigo pretende ser breve sobre um assunto que é muito extenso e complexo
no que diz respeito ao treinamento e formação de cães para executar a função de
proteção patrimonial.
Começo perguntando aos
senhores no que diz respeito aos seres humanos:
É possível formar um
soldado sem prepará-lo para as situações reais que ele irá encontrar em um
campo de batalha?
Seria justo e ético
para com ele, treiná-lo somente através de um jogo de cena?
Qual dos dois tipos de
treinamento você gostaria que o exército do seu país fosse treinado e em qual deles há maiores chances de sucesso e sobrevivência?
No jogo de cena? Ou o treinamento nas
situações mais próximas da realidade em campo de batalha?
E porque pergunto isso
aos senhores e o que isso tem a ver com o trabalho de cães de proteção?
É muito comum em nosso
meio, por falta de conhecimento ou competência técnica, treinadores reforçarem
um display de “defesa” nos cães, ou seja, apenas um mostruário destinado a atrair a
atenção.
Esse mostruário se
manifesta geralmente através dos latidos do cão no portão em comportamento aparentemente “defensivo” mas que não pode ser visto e entendido como cão de proteção; - aqui vale uma observação, via de regra quem invade a casa não invade pelo portão,
principalmente quando há cães na casa.
Esse display (mostruário), aos olhos
do leigo, parece indicar um comportamento agressivo, porém não passa de um jogo
de cena.
O jogo de cena se dá da
seguinte forma, o treinador pode em situações de brincadeira com a bolinha,
retirar a mesma e com isso aguardar uma vocalização do cão, assim que ele
vocalizar ele o recompensa soltando a bolinha, de forma que feito isso
repetidas vezes, ele condicionará a um comando (sinalizador verbal) de latido
no meio desse processo.
Ora, o cão apenas late
porque quer a bolinha. Que aspecto motivacional do comportamento está colocado
aí? O de brincar não é? Pois é, isso não representa perigo e tampouco um cão a
proteger seu território. É apenas um display, um mostruário, nada demais.
Há aqueles que não
capturam o comportamento de latir através da frustração da retirada da bolinha
e reforço pela vocalização. Há aqueles que aproveitando o comportamento normal de alerta que a maioria dos cães possuem em relação ao território que ele
convive, excita-o mais ainda no portão, com comportamentos de enfrentamento
e quando o cão late de forma a parecer mais “agressivo” o treinador foge de
vista, reforçando assim aquele comportamento.
Aos olhos do leigo, o
cão apresenta todos os comportamentos desejados para a função e fica feliz com
o trabalho.
Como profissional, posso
dizer seguramente que em ambos os casos não temos um cão de proteção, mesmo
porque latir sob comando e alertar sobre uma possível invasão territorial, não
resume um trabalho de proteção. A grande maioria dos cães treinados dessa
forma, quando há uma invasão territorial, fogem ou apenas latem sem agredir. A
culpa é deles? É da raça? Também não! A culpa é do treinador que não o ensinou que
existe a possibilidade da pessoa invadir o território e também de agredi-lo, inciando assim um combate entre agressor e cão.
Penso que nesses
momentos, se eu fosse um cão treinado apenas no display e pudesse falar, eu diria a seguinte
frase:
Caramba, nunca me
disseram que isso poderia ocorrer, sempre me achei o melhor cão do mundo quando
resolvia o conflito aqui no portão e a pessoa fugia. Só que agora a pessoa
entrou e eu não sei o que fazer, até tentei investir na pessoa, mas logo ela me
bateu com alguma coisa e eu fugi para o meu canto assustado. É, acho que fui
enganado! Mas enchiam tanto a minha bola...
Volto a fazer a
pergunta aos senhores: Treinar em cima de jogo de cena? Ou em busca de situações
muito similares as reais?
O que é mais ético?
Um cão treinado para
essa função, deve ter uma boa formação de mordida e deve ser treinado a morder
em diversos pontos diferentes. Deve ser treinado a realizar uma varredura de
pontos potencialmente propícios a invasão, que geralmente não é pelo portão.
Ele deve ter repertório
comportamental para realizar tudo isso e quem ensina esse repertório, é o
treinador. Não há dúvidas de que a
escolha da raça e do individuo também são importantes, mas existe todo um
contexto para que esse cão se torne um cão de proteção.
Leva tempo e muito
treino. Não é algo superficial como latir para ganhar a bolinha. É um trabalho
sério que envolve profissionais sérios e que sabem o que estão fazendo e que
jamais iriam enganar seus clientes e serem injustos com os cães que estão
treinando.
Banalizar o
comportamento agressivo e o trabalho de proteção, a latir para ganhar uma
bolinha ou a apenas latir no portão, é algo totalmente anti-ético para com o cão
e com o cliente, que como leigo acha muito bonito o seu cão latindo sendo que
na verdade está sendo enganado.
Latir para ganhar a
bolinha qualquer cão late. Diferente do cão formado em proteção patrimonial.
Contratem profissionais
sérios para a realização desse serviço.
Fica a dica e espero
que tenham gostado.
Grande abraço a todos!
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