segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Indagações - de Ivan Chitolina



Em aspectos gerais, pode-se dizer que é muito mais fácil os cães adquirirem novas respostas de comportamentos baseadas na relação com o dono do que o contrário.
O que não é comum é o dono adquirir novas respostas de comportamentos baseado naquilo que o cão demonstra como cinolidade, raça e interação com o meio. Por isso os donos rotulam comportamentos em seus cães sem ao menos ter o mínimo de curiosidade em saber o que está ocorrendo. Muitos abandonam os seus animais, outros se decepcionam com uma determinada raça onde, em sua fantasia, ele achava que o cão iria proteger, morder os “bandidos” e ser extremamente dócil com ele e seus filhos e que tudo isso iria aparecer no cachorro sem que houvesse seleção alguma e nenhum treinamento. Existe um abismo na comunicação dono – cão, que permeia também a atitude de muitos criadores que só vêem a criação como algo rentável e se esquecem dos deveres éticos e morais na venda de um cão. Porque vender um cão para uma família que não se adequará as exigências de cuidados gerais com ele? Dentre várias coisas que um criador deve saber, ele têm obrigação de selecionar para quem vender o seu cão.
Sinto em dizer, mas ainda estamos muito atrasados no que diz respeito a relação homem e animal. Ter um cão, hoje, virou fetiche, e dos caros. O que aproximará você do seu cão, não é o banho que você paga, nem a roupinha que você compra, tampouco o novo acessório de strass ou a festinha de aniversário. Isso são significações humanas, impostas como necessidades por um mercado cada vez mais perverso entre clínicas, pet shops, criadores e adestradores. Se o seu cão está bem cuidado e bem alimentado, não lhe pague uma festa cara ou mais roupinha(s) cara(s). Funde uma ONG ou doe esse dinheiro à instituições sérias que irão ajudar outros animais. Aposto que, se ele realmente compreendesse sua atitude ele abanaria muito o seu rabinho. Fique com ele, passe a mão nele, brinque com ele sem se importar se ele está sujo ou limpo, passeie com ele, leve ele conhecer outros ambientes desde filhote e socialize ele com outros cães e pessoas. Essas “pequenas” coisas fazem dele um cão mais saudável e com um ótimo vínculo com você. Mas nunca se esqueça, para que tudo funcione no mundo canino, há de ter a hierarquia. Seja sempre você o líder do seu cão, ele será emocionalmente mais estável. Prefira ser sempre a pessoa que o seu cão respeita independente de que raça e tamanho seja o cão. Um dono que coloca o seu animal no mesmo patamar que o dele, só porque o cãozinho é fofinho, pequenininho e bonitinho, se torna um líder instável onde o cão irá testá-lo constantemente.
O Showbusiness têm nos mostrado absurdos na televisão do tipo: “o líder tem que ser forte e rígido, não existe punição em treinamento de animais, só existe bronquinhas, mudanças no comportamento do cão só são feitas com petiscos, etc. Essa é a banalização geral da coisa toda, chega a ser perverso, pois a isso tudo está incutido vendas de produtos e de métodos de adestramento. Uma das coisas mais absurdas que eu li recentemente de um “pop star” adestrador em um renomado jornal do estado, foi colocar que cães sem raça definida são melhores porque reúnem o que há de melhor entre as raças que foram cruzadas. Leitores me perdoem, mas quanta besteira. Imaginem admitir o cruzamento de um Pastor com um Labrador para se obter comportamentos “médios” característicos de cada uma dessas raças. Em outras palavras, quando eu precisar de defesa de minha casa o lado pastor aparece, mas quando eu quiser docilidade e brincadeira, o lado Labrador surge. Que os geneticistas, etólogos, comportamentalistas e evolucionistas me perdoem pelo grave erro do colega de trabalho, ele não sabe o que faz.

Um grande abraço aos leitores do blog
Ivan Chitolina - Educador Canino

6 comentários:

Giovana Dechen disse...

Gostei muito do artigo porque nos revela verdades escondidas por um verniz mercadológico e capitalista que movimenta o mundo pet.
Parabéns.

Ivan Chitolina disse...

Obrigado por postar o seu comentário. O problema do mercado pet no Brasil é a falta de critérios (até das grandes redes de TV, como de jornais). Muita gente diz que o mercado pet ainda é virgem no Brasil, eu também acho, virgem de ética profissional. Abraço.

Unknown disse...

Adorei o artigo. Eu penso que as pessoas querem ter um animal de estimação muitas vezes pelo "status" que esse animal pode trazer e não pensam nas necessidades do animal, apenas querem ter um cachorro dentro de casa. Muitas vezes os donos acabam humanizando o cachorro e fazendo coisas como se ele fosse mais uma pessoa dentro de casa e compram roupas, sapatinhos e acessórios para deixá-lo bonito, quando o cão não precisa nada disso, pois, para ele basta ter um lar com comida e água, onde ele seja amado e querido.

Ivan Chitolina disse...

Obrigado pelos elogios Claudia. Acrescentaria algumas coisas sobre o que você colocou mas é bem isso aí mesmo.
Abraço

Unknown disse...

Xará, parabens pelo texto!
Está perfeito e lendo artigos como este, fazem com que paremos para pensar quantos cães sofrem por não terem "donos" como você.

Um abraço

Ivan

Ivan Chitolina disse...

Fala xará, que bom que gostou do texto. Seja bem vindo ao blog e obrigado pelo comentário. Abraço.